Prefácio


Criança Esperança ou
Criança: há esperança?
Querida criança, quando você crescer, você vai entender...
Alguém já parou para pensar no seguinte chavão: A criança é o futuro de uma nação. Mas, o que significa esta frase? Seria uma afirmativa? E se fosse, seria falsa ou verdadeira?
Em se tratando de Brasil, não seria mais coerente se disséssemos assim: A criança é o futuro de uma nação?
O Brasil é um país rico. Estamos entre as dez maiores economias mundiais. Nossos recursos naturais são tão privilegiados e ao mesmo tempo, correm o risco de serem extintos, sem ao menos se tornarem conhecidos. Como pode um país com um potencial como o nosso, cuja biodiversidade representa 23% de todo o planeta, ainda abrigar compatriotas mortos pela fome, pela miséria e por gente que se alimenta deste triste quadro? No Brasil, apenas 2% da população detém 90% da nossa riqueza. Somos o país dos contrastes. O Brasil é pobre de ricos e rico de pobres e miseráveis.
Como afirmar, sem medo de errar, que a criança é o futuro de uma nação? Afinal, de que nação estamos falando? Como uma criança com fome, sem saúde, sem infância, descalça, sem roupa, sem ensino capacitado, sem assistência médica, sem ensino e cujos pais, desempregados, desinformados, podem ter algum futuro?
Não estou falando da minoria. Esta vai muito bem, obrigada Brasília. Falo das crianças que têm a cara do Brasil, daquelas que o primeiro mundo desconhece, daquelas que existem de verdade, mas que 2% de abastados não enxergam. Estas crianças sim, estas formam o nosso Brasil. Sua miséria e sua fome é que alimentam esta engrenagem complicada e devastadora que se chama, falta de ética, imoralidade política, impunidade, descaso e irresponsabilidade criminosa.
Como ser otimista com tal situação, onde vale tudo para que não se esclareçam os desmandos, a corrupção e a roubalheira? É preciso manter o “status quo” para que esta engrenagem nefasta possa continuar funcionando. É melhor esquecer o artigo 205 da nossa carta máxima que assegura a Educação como direito de todos e dever do Estado e da família, visando o pleno desenvolvimento da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
É hora de dar um basta nisso. É hora de virarmos o jogo. Não podemos mais ficar sentados, esperando a luz ser apagada. Não permitamos que a indecência tome acento oficial em nosso país. Lutemos pela educação de nossos filhos, pois eles, sim, são a nossa esperança. Talvez não estejamos vivos para vermos seu futuro, mas pelo menos, preparemos o futuro para eles. Exijamos, sim, o direito que nos é dado pela constituição à Educação. Elas serão o nosso futuro. O futuro do Brasil. Não permitamos que nossas crianças sofram pela falta de informação, pela nossa falta de postura ética e moral. Não façamos de nossas crianças, os adultos de hoje.

Vamos dar esperança a este país criança de apenas 500 anos!
Salvemos a Educação no Brasil! Aproveitemos a inconformação de muitos que ainda tremulam suas bandeiras, dando sinal de sobrevivência nesta nação. Brasil, acordemos para saudar e incentivar os que ainda restam. Ainda existe uma classe operante e interessada, de seres humanos capazes de mudar o infeliz curso que a nossa “nau” teima cruzar. São professores de escolas particulares, dos municípios e estados que, conscientes de sua missão, permitem serem açoitados – com baixos salários, no grande navio negreiro, que ao longo dos anos vem mostrando ser este país.
Não deixemos mais que a educação seja vista como um eterno e distante "investimento”, uma aplicação cuja carência seja de longo prazo, pois isto nos fará acreditar em um sonho muito distante, num futuro imprevisível.
A Educação é a base principal para o desenvolvimento social, político e econômico de qualquer país. Paremos de pensar na vida, como se ela fosse uma meta para ser alcançada no futuro. A vida é agora e aqui. A vida não é um esteio ou uma caverna onde podemos hibernar para, após alguns anos, amanhecermos prontos. Também vivemos enquanto aprendemos. Educação e vida são “sujeitos” que caminham juntos, são irmãs de um mesmo ventre. Uma precisa da outra para dar sentido à construção de um ser humano de valor. Uma não excluiu a outra. São palavras femininas em busca de sua maternidade. Querem gerar filhos, como qualquer mãe. Querem ver crianças preparadas, saudáveis, correndo pelos imensos quintais do nosso Brasil.
Preparemos o desenvolvimento de nossas crianças, cobrando educação capacitada. Assim, estaremos formando um país melhor, para mais tarde, podermos lutar por um mundo melhor. Desenvolvamos, aos poucos, com nossas crianças, o exercício da cidadania para que formemos homens melhores, éticos e solidários. Enfim, preparemos um futuro melhor para as nossas crianças, aqui no Brasil. Colaboremos com o processo de construção de vidas dignas, de justiça, de igualdade, para que um dia não nos arrependamos de nada termos feito. Para que um dia, nunca mais ouçamos falar sobre mortalidade infantil, analfabetismo, desnutrição, tráfico de drogas, trabalho escravo, exploração sexual, fome e miséria.
A educação não é um fim em si mesma. Ao contrário, é o meio, através do qual, sem medo de errar, e com muito orgulho, poderemos um dia afirmar: A criança é o futuro de uma nação. E esta nação chama-se, Brasil.

Kátia Maria Carvalho – RJ 05.06.02